O gambá

Meu falecido pai não deixava
passar um só gambá batido.
À panela, o pobre bicho, levava,
cozia e comia num zás o fedido.

Ainda vinha e me oferecia,
mas nem matando eu comeria.
Dizia-me ter gosto de galinha,
a iguaria a empestear toda a cozinha.

Eu falava: “Não quero nem saber,
isso não como, prefiro morrer.”
Ele dava de ombros e só ria.

Sobrava mais para ele comer.
Então, beleza, era só alegria.
Menos pro gambá que tudo fedia.

Sonhos…

Deparei-me com a chave dos sonhos,
entre as flores da esperança perdida
nas lutas da minha áspera e triste vida,
reluzindo bem diante dos meus olhos.

Peguei a chave sem esquecer das flores,
e com novo vigor segui meu caminho,
mesmo que venha encontrar espinho,
bem sei que em vão não serão as dores.

Sonhar é a chave que nossa vida ilumina
rodeando de flores o nosso perseverar.
Realizar um sonho é encontrar uma mina,

tal é a alegria que nos chega a faltar o ar.
Possamos ter até onde o tempo termina
com sonhos realizados o mais belo colar.

Onde a felicidade se esconde

Contei nos dedos as vezes que fui feliz,
e não pude com alguém compartilhar.
Felicidade não é algo que se tem sozinho,
mas brota da alma e se expande pelo ar.

É como luz que por tudo se espalha,
tudo parece sorrir mesmo de cara fechada.
Sorriem as pedras, as árvores e as pessoas,
o gato, o cachorro, a chuva e a trovoada.

Nada rouba a felicidade da nossa vida,
quando em nós está sua origem e fonte,
pérola preciosa no coração escondida.

Para encontrá-la, só passando a ponte,
sobre o abismo das tristezas sentidas.
Lá está onde a felicidade se esconde.