A tesoura…

Tenho uma tesoura velha e enferrujada,
Dentro d’uma gaveta vive abandonada,
Afinal, obviamente, ela não corta mais nada.

Atirá-la ao lixo não o farei por certo,
Pois quero, sim, tê-la sempre por perto,
Mesmo velhinha e inútil, sob o mesmo teto.

É que essa tesoura é de estimação,
Cortava tudo, tecido, barbante e papelão,
Só não cortava a saudade do coração.

Sim, essa velhinha me é muito querida,
Quantas gazes já cortou para minhas feridas,
Do corpo, que da alma não tem jeito ainda.

Ah, minha tesoura velha e enferrujada,
Dentro da gaveta vive inutilizada,
Vou já te dar um trato e uma boa amolada.

Deserto bendito…

Veio Ele com o orvalho da manhã,
Sem aviso, tocar uma alma cansada.
Não foi mais embora, ficou,
Na alma que por Ele se enamorou.
Oh, deserto bendito da solidão…
Em ti encontrei o doce descanso,
No abismo do Divino Coração.
Do qual almejo ainda as profundezas.
Levai-me, Amado, levai-me!
Procuro-Te. Tenho sede de Ti.
Mesmo na aridez, confio.
Pois me selaste, e já não pertenço a mim.

O presente

Luzes piscam nas fachadas
Todas as ruas enfeitadas
Crianças riem alvoroçadas

Nas mesas tanta fartura
Não para toda criatura
Que jaz só infeliz ventura

Não importa onde se esteja
O presente que Jesus almeja
É um coração que seja

Para ali fazer morada
Aliviando a alma cansada
Da Sua criatura amada.

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Feliz e abençoado Natal para todos nós!